A Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) lamenta a morte do jornalista Ricardo Boechat, um dos grandes nomes do jornalismo do país. Para o presidente da FIEC, Beto Studart, Boechat “deixa um vazio por seu aspecto qualitativo no tratamento das questões nacionais”. Boechat foi um dos convidados da atual gestão da FIEC para participar do Ideias em Debate, série de encontros onde personalidades de diversas áreas têm sido convidadas a discutir com os industriais cearenses os problemas brasileiros.
Ele esteve na Casa da Indústria no dia 27/6 de 2016, onde fez transmissão ao vivo do jornal da BandNews FM direto da cabine do estúdio móvel da rádio na sede da FIEC. Em seguida, lotou o auditório Waldyr Diogo, onde ressaltou o desempenho da imprensa na cobertura da crise política brasileira. Na opinião dele, a imprensa é menos plural do que poderia ser, especialmente a imprensa regional pela vinculação, em muitos estados, dos meios de comunicação a grupos com interesses políticos, o que dificulta a autonomia do fazer jornalístico. Mesmo assim, analisando o conjunto da grande imprensa, Boechat acredita que o resultado da cobertura é positivo, embora faça críticas pontuais a determinados veículos.
“Nos momentos mais agudos da crise, muita gente tomou posições extremamente sectárias, especialmente em relação ao impeachment. Fui criticado por um mesmo comentário por quem é a favor do impeachment e por quem é contra. Um verdadeiro clima de histeria dominou o debate da população em torno do impeachment. Não se conseguia entender o porquê dessa divisão tão aguda e tão apaixonada em torno de uma discussão que poderia ter um componente de debate político mais acentuado”, afirmou. Segundo Boechat, a passionalidade despertada pela questão gerou críticas de todos os lados à imprensa que, em sua análise, deu sim mais espaço a uma tendência de pensamento.
Para ele, tomar esse partido é natural já que o lado mais evidenciado pela grande imprensa estava, em suas palavras, mais alinhada ao pensamento da opinião pública. “O movimento pró-impeachment ganhou mais dedicação da imprensa porque era o movimento que encontrava maior ressonância nas ruas. E isso se deu não especificamente por uma questão de engajamento do noticiário a essa posição, ainda que editorialmente os jornais tenham caminhado para essa postura também. A medida em que o processo de impeachment foi ganhando corpo e se caracterizando como processo irreversível, é natural que a imprensa se voltasse mais para esse lado que para o outro”, destacou.
Sobre a economia do país, o jornalista minimizou os problemas atuais e disse que as soluções virão com o tempo. O problema mais grave e incontornável do Brasil é, na sua visão, a configuração que o Estado brasileiro adquiriu ao longo das últimas décadas, baseado em um modelo dispendioso e corrupto. Esse é, para Boechat, o grande desafio de curto, médio e longo prazos. “Estamos nós aqui discutindo se a produção industrial deve ser retomada desta ou daquela maneira, se a inflação vai cair desta ou daquela maneira, se a taxa de emprego pode evoluir ou não, se o PIB volta a crescer ou não, mas tudo isso nós já vivemos em outros momentos da nossa história. Eu me pergunto em que momento da nossa história o Estado foi pior do que é hoje. A curva de piora do Estado brasileiro não para de aumentar. Temos um Estado em que a curva da ineficiência, de gastos, de despesas e de desvios é constante em crescimento diante de uma curva de eficiência declinante, com uma expectativa de alteração dessa realidade absolutamente nula. O grande desafio que está colocado para a sociedade e para a classe politica num prazo que precisa ser o mais curto possível é a repactuação dessa relação do Estado com a sociedade. Esse pacto que está aí e que não se discute é que precisa ser debatido”.
Apesar do pessimismo que ainda resistia entre os brasileiros, Boechat disse acreditar em um horizonte de mudança, “visível daqui a dois anos nas eleições presidenciais”. Para ele, as eleições municipais de outubro seriam de ajustes partidários, “um acerto de contas da classe política com ela mesma”. Segundo ele, a mudança de perfil da sociedade brasileira, que está muito mais atenta à política, associada a um quadro de crise que castiga quase 13 milhões de trabalhadores desempregada e a perdas de perspectivas, aos escândalos, a conexão da sociedade com as redes sociais quase 24 horas por dia, projetariam 2018 como um horizonte capaz de mudar alguma coisa no médio e no longo prazo. “Até la, vamos ficar dando cabeçada e expelindo os bandidos mais notórios. Achei que 2014 seria um acerto de contas, mas não foi. Mesmo assim, renovo expectativa para 2018 já que vivemos uma crise mais aprofundada e o grau de impaciência da sociedade está mais elevado. Torço muito para ver uma mudança nesse país que tanto amo e que isso aconteça o mais rápido possível”, finalizou.