Para psicóloga do CEUB, a qualidade da rede de apoio, tanto de serviços quanto comunitária, influencia na recuperação das famílias atingidas
O Brasil enfrenta uma das maiores catástrofes climáticas de todos os tempos. Desde a semana passada, o Rio Grande do Sul foi atingido por fortes enchentes, com 83 mortes e 121.957 desabrigados, segundo relatório da Defesa Civil do estado na manhã desta segunda-feira, 6 de maio. Diante disso, o país se mobiliza em campanhas de arrecadação de donativos para as famílias que perderam os meios de subsistência básica. Além de abrigo, comida, higiene, roupas e calçados, os sobreviventes de desastres climáticos necessitam de apoio psicossocial. É fundamental fornecer apoio instrumental e emocional às comunidades e às famílias, afirma Izabella Melo, professora de Psicologia do Centro Universitário de Brasília (CEUB).
Confira entrevista, na íntegra:
Como o impacto emocional nas famílias de vítimas de desastres naturais difere de outras formas de trauma?
IR: O impacto emocional causado por desastres naturais nas famílias difere de outras formas de trauma principalmente devido à sua natureza imprevisível. Enquanto eventos de transição familiar, como a entrada dos filhos na adolescência, podem ser estressantes, desastres naturais são considerados estressores verticais, trazendo uma imprevisibilidade que aumenta os sintomas ansiosos e depressivos, podendo desencadear outros transtornos psicológicos. Esses eventos, quando coincidem com transições familiares, como a adolescência dos filhos, podem intensificar ainda mais o impacto sobre a família.
Quais são os principais desafios psicológicos enfrentados pelas famílias durante o processo de recuperação após um desastre natural?
IR: Isso vai variar muito a partir de questões contextuais. As variáveis econômicas, ambientais, Os desafios psicológicos durante a recuperação após um desastre natural variam dependendo do contexto, como fatores econômicos, ambientais e políticos. Uma resposta imediata e adequada por parte das autoridades pode reduzir os sintomas depressivos e ansiosos, enquanto uma resposta tardia ou insuficiente pode agravar o impacto psicológico. A qualidade da rede de apoio, tanto de serviços quanto comunitária, também influencia na recuperação das famílias.
Que tipos de apoio psicológico são mais eficazes para ajudar as famílias a lidar com o luto e o trauma após um desastre?
IR: Diferentes estratégias de suporte psicológico são necessárias em diferentes momentos após um desastre. A psicologia dos desastres oferece diretrizes e pesquisas valiosas nesse sentido. No início, o foco é na mitigação dos efeitos imediatos, como a psicoeducação para prevenção de danos adicionais. Posteriormente, o suporte se volta para a redução dos sintomas de sofrimento e o manejo do trauma, incluindo terapia individual, familiar e em grupo.
Como lidar com o sentimento de culpa que algumas famílias podem experimentar após a perda de entes queridos em um desastre natural?
IR: O manejo do sentimento de culpa após uma perda depende da história e contexto familiar. É importante reconhecer que cada experiência de culpa é única e buscar entender como a família organiza seus sentimentos e significados em relação ao evento traumático. O apoio pode incluir a valorização dos legados familiares e a busca por fatores protetivos específicos àquela família.
Qual é o papel dos grupos de apoio no processo de recuperação emocional das famílias afetadas por desastres naturais?
IR: Os grupos de apoio desempenham um papel crucial na recuperação emocional das famílias, permitindo que compartilhem experiências e reconfortem-se mutuamente. O terapeuta atua como facilitador, fornecendo estrutura para a conversa, enquanto o grupo aproveita sua expertise coletiva para fortalecer o senso de comunidade e valorizar as experiências individuais.
Quais são os sinais de alerta de problemas psicológicos mais graves que podem surgir nas famílias após um desastre natural? E quais seriam os caminhos para buscar ajuda?
IR: Sintomas de ansiedade e depressão são comuns após um desastre natural, mas se persistirem por longos períodos podem indicar problemas mais graves. É importante buscar suporte psicológico, médico e comunitário, além de políticas públicas que atendam às necessidades da população afetada. A combinação desses esforços é essencial para lidar com problemas psicológicos mais sérios e facilitar a recuperação das famílias.