A cartilagem é um tecido de sustentação que fica entre os ossos. Resistente, flexível, que ajuda a manter as articulações em boas condições de funcionamento para que ocorra a movimentação.
A cartilagem articular possui uma camada lisa e duradoura na extremidade de cada osso da articulação. O fluido de dentro das articulações sinoviais lubrifica essa cartilagem, permitindo que os ossos opostos deslizem um sobre o outro – por exemplo, quando o joelho dobra em um movimento para sentar – suavemente e com pouco atrito.
Como já dito, até certo tempo atrás, acreditava-se que a lesão cartilaginosa seria auto limitada, ou seja, uma vez ocorrida, ela teria um potencial de melhora espontânea. Hoje, sabe-se que toda lesão cartilaginosa possui um componente inflamatório crônico que pode levar à destruição cartilaginosa, caminhando para uma artrose. Por esse motivo orienta-se a intervenção, o mais rápido possível.
Classicamente, o tratamento de eleição das erosões cartilaginosas maiores sempre foi o da “micro perfuração”, conhecido popularmente como “raspagem”. Estatisticamente, sabemos que o procedimento possui um tempo limitado de melhora.
A formação do coágulo de fibro-cartilagem tende a falhar ao longo do tempo, principalmente em pacientes jovens e muito ativos.
Recentemente, foi homologado no Brasil o tratamento dessas lesões através de um procedimento conhecido entre os médicos como Biomembranas, ou membrana de colágeno, procedimento denominado de condrogênese induzida por matriz autógena, cuja sigla em língua inglesa é AMIC.
Suas indicações incluem:
- Lesões osteocondrais em graus III e IV
- Defeitos traumáticos locais
- Efeitos entre 2,0 e 8 cm2.
- Pacientes jovens e ativos, com idade entre 18 e 40 anos.
Qual a função da membrana?
A membrana tem sempre origem animal – suína ou bovina – e o intuito é que, uma vez inserida, estimule as células tronco mesenquimais que saem através das micro perfurações e se transformam em células cartilaginosas fabricando a matriz extra celular, rica em colágeno do tipo II. Outra função importante é proteger estas células da área articular, evitando-se o estresse mecânico.
Técnica cirúrgica:
Inicialmente, realiza-se uma artroscopia tradicional para ver e dimensionar o tamanho do defeito cartilaginoso.
Se realmente a técnica for aplicável, procedemos uma incisão mínima sobre a área a ser trabalhada e o defeito é mensurado de forma aberta. A seguir, fazemos o molde exatamente do tamanho do defeito e a micro-perfuração é realizada.
A fixação da biomembrana é executada através de costuras (suturas) e reforçada por uma cola de fibrina. Por fim, realizamos a flexo-extensão da articulação para ver se existe algum atrito ou bloqueio. Se houver, o molde é refeito. Não havendo, fechamos cuidadosamente a cápsula e demais estruturas da articulação abordada.
Período pós-operatório
A fisioterapia deve ser iniciada o mais precoce possível, preferencialmente no leito hospitalar.
O período de imobilização e uso de muletas dependerá sempre da articulação abordada e da localização do defeito cartilaginoso.
Pessoalmente, considero a reavaliação semanal de extrema importância para que qualquer complicação ou má evolução sejam vistas e tratadas o mais rápido possível.
A grande maioria dos protocolos libera a deambulação independente após a sexta semana pós operatória. Até que este período seja alcançado, é muito importante que a capacidade cardio-respiratória seja mantida por métodos como a natação com flutuador e o ciclo-ergômetro de braço, por exemplo.
A avaliação dos resultados é realizada tanto pela avaliação clínica, quanto por imagens de ressonância magnética, especialmente por aquelas especializadas em cartilagem como o mapa T2 e a dGEMRIC.
E o futuro?
Certamente, o futuro desta técnica envolverá uma melhor associação com o cultivo e implante de células-tronco (ainda bastante limitado no Brasil), pelo desenvolvimento de materiais biológicos com melhor adesão celular e transformação de tecido cartilaginoso e a minimização da técnica, sendo, cada vez mais realizada por vídeo artroscopia.