Escrito a partir de textos e relatos da filósofa Helena Theodoro, monólogo joga luz sobre o papel poderoso e fundamental da mulher negra na sociedade
Crédito da Foto: Roberto Carneiro
Baseado em textos e relatos da filósofa, Helena Theodoro, que reflete e celebra sobre o papel fundamental e sagrado da mulher negra, o espetáculo “Mãe de Santo” desembarca no Nordeste pela primeira vez. Na capital cearense, a montagem será apresentada no dia 16 de junho, no Teatro São José, como parte da Solenidade de Abertura Oficial do XV Festival de Teatro Fortaleza, que é uma realização Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor), em parceria com o Teatro Novo. Com atividades em vários espaços da capital cearense, o FTF terá programação a partir do dia 10 e seguirá até 21 de junho, com acesso gratuito.
Ressignificar e enaltecer o poder da mulher preta na condução de suas comunidades é o grande mote do monólogo “Mãe de santo”. A montagem já diz a que veio ao escalar Vilma Melo, primeira atriz negra a vencer o Prêmio Shell (2017), para interpretar uma e, ao mesmo tempo, várias mulheres pretas. No Rio de Janeiro, o monólogo já passou pela Casa de Cultura Laura Alvim, Teatros Ipanema e Glauce Rocha. Além da temporada carioca, o espetáculo se apresentou no Festival Mindelact, que acontece há 22 anos, em Cabo Verde, no FESTIVAL FESTIJ, em Angola, e no Teatro da Cia do Chapitô, em Portugal.
A peça “Mãe de santo” traz um posicionamento firme e de orgulho das histórias contadas e passadas por gerações e documentando como as mulheres afrobrasileiras são diálogos, corpos sagrados e que utilizam o homem como complemento de suas narrativas e vivências. Com direção geral de Luiz Antonio Pilar, o espetáculo foi escrito pela autora teatral Renata Mizrahi a partir de textos e relatos da filósofa, escritora e professora Helena Theodoro, que celebrou seus 80 anos em 2023.
“Mãe de santo representa pra mim as mil possibilidades da mulher preta, que dá asas à imaginação, mostrando musicalidade, poesia, espiritualidade, habilidade e maternidade desde muito tempo. Ser mãe de santo é ser mãe do mundo, cuidando de gente de ontem – seus ancestrais – ou de hoje – sua família, amigos, parceiros –, preservando o mundo para um amanhã mais pleno, transformado pelo elo de afeto entre as pessoas, pela arte e por toda a beleza que um olhar doce e meigo pode oferecer. Mãe de santo é mulher que se orgulha de suas histórias e identidades, entendendo que nada é mais profundo do que a pele preta que traz em seu corpo e ilumina sua alma”, afirma Helena Theodoro.
“Mãe de santo” é para além do arquétipo, das vestimentas e acessórios característicos da religião. O espetáculo mostra que essas mulheres também vivenciam o particular – carregam tristezas, perdas, felicidades, medos, angústias e papéis importantes na sociedade. Apesar de estereotipadas, essas figuras religiosas são plurais e, muitas vezes, não recebem o acolhimento de que necessitam. Mas, mesmo assim, ressignificam suas histórias em prol do viver individual e do coletivo existentes nas comunidades que lideram. Com “Mãe de santo”, a atriz Vilma Melo foi indicada aos prêmios APTR 2022 e Shell 2023 na categoria “Melhor Atriz”.
“Esse espetáculo é a expressão da minha felicidade e do meu compromisso com nossa ancestralidade. Um projeto que nasce em 2018, após a descoberta do Alzheimer da minha avó materna Maria (que é mãe de santo) e da reconexão com a minha fé, que me permitiu vislumbrar esta montagem trazendo à cena histórias de tantas mulheres que admiro, que me inspiram e me orientam”, revela o idealizador e produtor Bruno Mariozz.
No traço da materialidade, as mães podem ser vistas como depósitos para desenvolvimento de outros seres. Elas geram, criam e educam com o intuito de integrar a sociedade. Já na não materialidade, a mulher é cabaça, que contém e é contida por representar a vida. A ancestralidade dessas mulheres pretas empodera o cotidiano, os estudos, a família, a carreira profissional, a posição social, e ainda fortalece o enfrentamento do racismo diário.
Sinopse:
“Mãe de Santo” chama a atenção do olhar com os olhos de ver. A peça é baseada nas vivências da filósofa, escritora e professora Helena Theodoro e de outras mulheres, como a própria atriz que a interpreta, Vilma Melo, por meio de uma personagem muito empoderada, que, ao dar uma palestra internacional, entrelaça as histórias, provocando sobre o que realmente interessa contar e mostrar. O que se espera de uma mulher que nunca foi uma coisa só? Mãe, professora, empregada, mãe de santo, estudante. Quantas histórias cabem em uma única vida?
Sobre Helena Theodoro
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), graduada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mestra em Educação pela UFRJ e doutora em Filosofia pela Universidade Gama Filho. Em 2019, terminou o pós-doutorado no IFCS/UFRJ /PPGHC (Programa de Pós-graduação em História Comparada). Foi presidente do Conselho Deliberativo do FUNDO ELAS e coordenadora do Comitê Pró-equidade de Gênero, Raça e Etnia da Casa da Moeda do Brasil até junho de 2016.Atuou como professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá, tendo sido coordenadora da Pós-graduação de Figurino e Carnaval da Universidade Veiga de Almeida (UVA), de 2010 a 2015. Participou da comissão julgadora nas edições de 2011, 2012 e 2013 do Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento, produzido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro/Cojira-Rio. Foi vice-presidente do Conselho Estadual dos Direitos do Negro – CEDINE. Exerceu a vice-presidência do Fundo ELAS, de 2008 a 2015, tendo sido jurada do Estandarte de Ouro do jornal O Globo durante 27 anos. Coordenou o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) da FAETEC de 2008 a 2013. Escreveu os livros “Mito e Espiritualidade: Mulheres Negras” (1996), “Os Ibéjis e o Carnaval” (2009), “Caderno de Cultura Afro-brasileira” (2009), “Iansã, rainha dos ventos e tempestades” (2010) e “Martinho da Vila – Reflexos no Espelho” (2018).
Sobre Vilma Melo
Professora, atriz com atuações em teatro, cinema e televisão. No teatro, ganhou o Prêmio Shell de Melhor Atriz por “Chica da Silva”, em 2017 – primeira mulher negra a conquistar a categoria de melhor atriz no Prêmio Shell; o Prêmio Cenym de Melhor Atriz Coadjuvante em “A Vida de Billie Holliday”; Prêmio Aplauso Brasil de Melhor Elenco em “Fulaninha e Dona Coisa”; e Prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante do Festival de Teatro de Campos por “O Romance do Pavão Misterioso”. Indicada aos prêmios CBTIJ e Botequim Cultural como Melhor Atriz por “Marrom, Nem Preto, Nem Branco?” e ao Prêmio Cesgranrio e Botequim Cultural como Melhor Atriz por “Chica da Silva”. No cinema, fez os longas “Três verões”, de Sandra Kogut e Regina Casé; “Campo Grande”, de Sandra Kogut; “Selvagem”, de Diego da Costa (a estrear) e “Reação em cadeia”, de Márcio Garcia. Na TV, fez a série “Segunda chamada”, da TV Globo; a quarta temporada de “PSI”, da HBO; “Baile de máscaras”, do Canal Brasil; “Teatro no ato”, direção de João Falcão, do Arte 1 (a estrear); e “Cinema de enredo”, do Prime in Box. Fez parte do júri do Prêmio CBTIJ de Teatro para Infância e Juventude 2020.
Sobre Luiz Antonio Pilar
Diretor de teatro, televisão e cinema. Formado bacharel em Artes Cênicas, especialização de direção teatral, pela UniRio, em 1990. Com grande experiência em televisão, dirigindo as novelas “Desejo proibido”, “Sinhá Moça”, “A padroeira” na TV Globo; “Xica da Silva”, “Brida”, “Mandacaru”, e “Tocaia Grande” na extinta TV Manchete. No cinema, dirigiu “Lima Barreto, ao terceiro dia”, o documentário “Candeia” e o curta-metragem, “A mãe e o filho da mãe”. Venceu o 13º Festival de Curtas do Rio de Janeiro e, como prêmio, representou o Brasil no Festival de Cinema de Angérs, França. Em parceria com a produtora Lapilar, o Canal Futura e a TV Globo, desenvolve o projeto “A cor da cultura” (conjunto de programas voltados para temática negra, em cumprimento a determinação da Lei 10.639). Em 1993, fundou sua produtora, realizando projetos de sucesso de temática afrobrasileira como o espetáculo teatral “Os negros”, de Jean Genet.
Ficha técnica
Argumento: Helena Theodoro. Texto: Renata Mizrahi. Com: Vilma Melo. Direção: Luiz Antonio Pilar. Trilha sonora original: Wladimir Pinheiro. Direção de produção: Bruno Mariozz. Cenário e Figurino: Clívia Cohen. Instalação de Turbantes: Renata Mota. Iluminação: Anderson Ratto. Visagismo: Késia Lucas. Programação visual: Patricia Clarkson. Design gráfico e comunicação: Rafael Prevot. Produção executiva: Walerie Gondim. Idealização: Bruno Mariozz e Vilma Melo. Produção e realização: Palavra Z Produções Culturais.
SERVIÇO
XV Festival de Teatro de Fortaleza (FTF) – De 10 a 21 de junho de 2024 em espaços culturais de Fortaleza. Informações: curadoria.xvftf@gmail.com. Rede Social: @festivaldeteatrofortaleza