Brilho brasileiro em Paris: como as brasileiras estão redefinindo a meca da moda

Na efervescente capital mundial da moda e do luxo, um sopro de inovação e criatividade vem marcando território com um distinto sotaque brasileiro. Esse movimento não apenas mudou os contornos da indústria da moda em solo parisiense, mas também está abrindo novos caminhos para o futuro do setor. Nesse cenário, emergem as figuras de Cristina Córdula, stylist e consultora de imagem que há 20 anos comanda programas de moda na TV francesa, e da doutora em Marketing de Moda Paula Fernanda Prado, professora no Mestrado de Moda e Luxo da Sorbonne, uma das universidades mais prestigiadas do mundo. 

O trabalho dessas brasileiras está elevando o perfil do Brasil no cenário da moda internacional. Além de ter desfilado para as principais grifes do planeta, Cristina foi a pioneira da consultoria de imagem na França durante o início dos anos 2000. “Nesse período a moda começou a ficar mais acessível. Com a consultoria de imagem, mostrei que todo mundo poderia melhorar sua imagem e ter um estilo próprio sem precisar gastar muito. Também comecei a decifrar a moda e falar sobre isso em uma linguagem fácil de entender para o grande público. Tudo isso popularizou a moda na França”, comenta.  


Há mais de 20 anos brasileira programas de moda na TV Francesa

Décadas depois de inovar no ramo da consultoria, Cristina se transformou no rosto do Brasil na França. Durante 10 anos ela comandou um programa diário sobre moda, o Reines du Shopping, no principal canal de entretenimento francês; lançou sete livros, tem uma marca própria de maquiagem, a Magnifaïk, e, como se não bastasse, é a estrela do Dancing With The Stars, a versão francesa do Dança dos Famosos.  

No início de março, Cristina e Paula Prado se encontraram para falar de moda no Anfiteatro Bachelard, no coração da Sorbonne. Paula, que é uma das primeiras brasileiras a lecionar na Universidade de Paris, convidou Cristina para dar uma palestra aos estudantes do Mestrado em Moda e Luxo e do Mestrado em Artes e Indústrias Criativas da Direção de Inovação da Sorbonne. “Cristina é um ícone e tem muito a ensinar aos amantes da moda. Na Sorbonne, a moda brasileira e os brasileiros são muito valorizados. Tanto que, todos os anos, os estudantes fazem uma imersão no Brasil, visitando grifes de São Paulo e Rio de Janeiro e vivenciando a cena nacional”, comenta Paula.  

Referência mundial

A professora da Sorbonne destaca a importância da moda brasileira no cenário mundial. “Nosso país tem influência de várias nacionalidades, temos profissionais criativos e abertos para uma moda diferente, que foge do lugar comum. A moda do Brasil é uma referência forte para o mundo, especialmente a moda fitness, a moda praia e a moda íntima. Marcas francesas e europeias passaram a fazer o mesmo corte das calcinhas que no Brasil são chamadas de corte bikini, mas que na França são chamadas de ‘corte brasileiro’. O Brasil já se tornou sinônimo de categoria de produto na Europa. Os europeus adotaram nossos chinelos e calçados de borracha e plástico (Havaianas e Melissa), como itens essenciais do guarda-roupa no verão europeu”, enumera a pesquisadora em moda. 


Cristina com Paula Prado e diretor da Sorbonne: moda brasileira valorizada na França

Convergência de talentos

Na plateia da Sorbonne estava outra brasileira que respira moda: Sharon Azulay, diretora criativa da BlueMan, que recentemente lançou a marca Rayo, “para ser feliz, não para ter razão”. “Quando criei a Rayo, senti muito a necessidade de treinar meu olhar, estudar o mercado de luxo, e não é o luxo de valores, é o luxo no comportamento, na tendência, no formato, no tecido, no acabamento, na experiência. Vim fazer essa imersão em Paris para sair da minha zona de conforto, por isso vim estudar a arte, o comportamento e as formas com que a moda se manifesta, através da arquitetura, do tecido, da hospitalidade. O luxo está em vários lugares e eles vão transitando”, comenta a empresária.  

Futuro da moda

Nessa imersão, Sharon cruzou o caminho de duas brasileiras que estão ressignificando o setor. Na avaliação de Paula e Cristina, o futuro da moda está na inclusão, sustentabilidade e democratização. “A moda é para todo mundo, ela ficou mais acessível, os designers são mais conhecidos. E isso faz com que todo mundo possa encontrar um estilo próprio, sem seguir padrões de beleza pré-estabelecidos. A moda pode fortalecer as pessoas, a gente pode ter um empoderamento muito forte e isso é primordial”, comenta Cristina. 

Paula enxerga um futuro mais responsável, verde e criativo para o setor. “As marcas vão produzir coleções menores, com peças atemporais que vão se repetir nas coleções por serem icônicas. Haverá o retorno dos tecidos naturais, de origem orgânica, e a fabricação de peças com fibras recicladas, além do uso de upcycling, que é a reutilização de peças em funções diferentes da original. Parece uma utopia tudo isso, mas já é uma realidade aqui na França, com novas leis europeias visando uma moda mais durável, sustentável a longo prazo, com menos desperdício de matéria-prima e com proibições de destruição de produtos que não foram vendidos”, completa Paula.

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